Te dei metade de mim
e você pendurou na beira da cama, junto das suas medalhas de lata.
Eu sei.
O ideal seria ficar na sua vida igual poeira, me espalhar em silêncio, não te atrapalhar os planos e rumos. Talvez você me deixasse amar assim distante, talvez te causasse orgulho um amor humílimo, pobre de consequências. Mas eu quis tão mais.
Quis muito e de tudo ficaram só vestígios, em certas gavetas, em certas horas da tarde quando eu costumava ter alguém com quem conversar e agora fico olhando o telefone. Em certas coisas que dividíamos e agora ficarão comigo, morando geladas na minha garganta. Você sim soube se espalhar, empoeirou a minha vida. Ocupamos agora um mesmo lugar no vazio de mim, eu te arrasto por aí, você pesa, queria te abandonar como um dono malvado que te arrasta numa coleira e de repente a solta no meio da multidão e foge. Mas você fugiu antes, quando eu limava os sonhos e enfeitava planos, enquanto eu juntava aqui dentro as moleculazinhas de esperança e de medo. Explodiram, você sequer soube, nem pode imaginar.
Eu quis demais. Abriguei um mar dentro de um coração roto, depois calei esse mar o quanto pude, mas o mar excedeu e ondulou além de horizontes e outros sete mares. Levou o que podia de mim, levou minha tendência a estar sempre distante das coisas, levou minha crença e minha fortaleza. Deixou esse gaguejamento, esse sem-fim de mini cacos dentro do peito, arranhando. Deixou você, que eu guardo. Que eu escondo. Que eu tento apagar.
[por priscila]
terça-feira, outubro 10, 2006
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